sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Um texto para reflexão

Igreja, uma comunidade que perdoa
Mateus 18.21,22

Enquanto pensava no nosso estudo sobre o perdão, eu comecei a vasculhar os meus livros, buscando uma história que pudesse mostrar a importância do perdão. Depois de abrir vários livros, encontrei um texto escrito por Philip Yancey em seu livro “Maravilhosa Graça”. Yancey comenta sobre uma peça escrita por Victor Hugo. Nela, Victor Hugo conta a história de Jean Valjean, um prisioneiro francês perseguido e, finalmente, transformado pelo poder do perdão.
Condenado a dezenove anos de trabalhos forçados pelo crime de roubar pão, Jean Valjean gradualmente endureceu-se até se transformar em um rude prisioneiro. Ninguém podia vencê-lo em uma briga nem quebrar sua vontade. Finalmente, Valjean recebeu anistia. Mas os condenados naquele tempo tinham de carregar cartões de identificação e nenhum dono de pousada permitiria que um criminoso perigoso passasse ali a noite.
Durante quatro dias ele vagou pelas estradas do lugarejo, procurando abrigo contra as intempéries, até que, finalmente, um bondoso bispo teve misericórdia dele.Naquela noite, Jean Valjean ficou quieto em uma cama extremamente confortável, até que o bispo e sua irmã caíram no sono. Levantou-se da cama, esvaziou os armários onde a família guardava a prata e saiu silenciosamente para as trevas.
Na manhã seguinte, três policiais bateram à porta do bispo, com Valjean a reboque. Eles haviam apanhado o condenado fugindo com a prata furtada e estavam prontos a colocar o canalha na cadeia pelo resto de sua vida. O bispo reagiu de um jeito que ninguém, especialmente Jean Valjean, esperava:“Então você está aí?” – ele gritou para Valjean. “Que bom vê-lo de novo. Você esqueceu que eu lhe dei também os castiçais? São de prata como o resto e valem bem uns 200 francos. Esqueceu de levá-los?”Jean Valjean arregalou os olhos. Olhava para o velho homem com uma expressão que palavras não poderiam traduzir. Valjean não era ladrão, o bispo garantiu aos policiais. “Eu lhe dei esta prata de presente”. Quando os policiais se afastaram, o bispo entregou os castiçais a seu hóspede, agora trêmulo e sem fala. “Não se esqueça, jamais se esqueça” – disse o bispo – “que você me prometeu que usaria o dinheiro para se tornar um homem honesto.”
O poder da atitude do bispo, desafiando todo instinto humano de vingança, transformou a vida de Jean Valjean para sempre. Um encontro direto com o perdão – especialmente porque nunca se arrependera – derreteu o granito das defesas de sua alma. Ele manteve os castiçais como lembrança preciosa da graça e dedicou-se, daquele momento em diante, a ajudar outras pessoas necessitadas. Essa experiência passada por Jean Valjean por si só nos faz entender a força do perdão. E, conseqüentemente, também nos faz compreender porque Jesus tantas vezes ensinou seus discípulos sobre a importância do perdão.
Em Mateus 18.21-22, por exemplo, nós lemos: “Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu: Eu lhe digo: Não até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” O perdão, segundo Jesus, é uma das marcas do cristão e, naturalmente, da comunidade cristã. A igreja é o lugar por excelência onde o perdão deve acontecer. Afinal, por terem experimentado o perdão de Deus, os cristãos devem aprender a perdoar sempre.
Essa, com certeza, foi a experiência do bispo no tocante à sua atitude com Jean Valjean. Assim, da mesma maneira, nós todos devemos agir: porque Deus nos perdoou, devemos perdoar sempre.Devemos perdoar até mesmo o “grande” pecadoNós todos temos a tendência de dividir os pecados em “pecadões” e “pecadinhos”. Contudo, sabemos que aos olhos de Deus não há pecados que sejam maiores que outros.
Para Deus, todo pecado é alvo da sua atitude perdoadora em Cristo Jesus. Dessa maneira, Ele nos ensina como devemos proceder em relação às pessoas que nos ofendem.Quando Jesus respondeu a Pedro acerca do perdão, Ele não fez uma lista qualificando o tamanho dos pecados que deveriam ser perdoados sempre. Jesus não disse que as “pequenas” mentiras, os “pequenos” desvios na glutonaria, as “pequenas” vaidades, as “pequenas” manifestações de ira deveriam ser perdoados e que os adultérios, homicídios, furtos e agressões não deveriam ser. Antes, Ele mostrou que o perdão deveria acontecer em toda e qualquer situação. Ele disse que o perdão para qualquer pecado cometido deveria acontecer “(...) não até sete vezes; mas até setenta vezes sete.” (Mateus 18.22)
Assim, se uma pessoa agrediu você fisicamente, violentou o seu corpo, explorou a sua sexualidade, você deve perdoar essa pessoa da mesma maneira como você consegue perdoar aquele que chega cinco minutos atrasado naquele “compromisso do sorvete”. Você não deve deixar de perdoar aquele primeiro porque as conseqüências do pecado que ele cometeu foram maiores ou porque ele fez você sofrer muito mais do que qualquer outro. Antes, você deve perdoar.
Devemos perdoar até mesmo o pecado repetitivo.Muitas pessoas têm a idéia de que um pecado não pode ser perdoado muitas vezes. Pensam que se perdoarem um pecado muitas vezes, estarão contribuindo para que o pecador fique relaxado na sua vida com Deus. Às vezes relutam em dar o perdão, apresentando justificativas como: “Ele precisa aprender uma lição”; ou: “Não quero continuar incentivando um comportamento irresponsável”; ou então: “Vou deixá-la em banho-maria por um tempo; vai-lhe fazer bem”.Contudo, quando voltamos os olhos para as palavras de Jesus, lemos que ele nos ordenou a perdoar sempre, ainda que a pessoa cometa o mesmo pecado setenta vezes sete vezes.
O perdão jamais deve ser negado a pessoa alguma. Ele nunca deve ser condicionado a alguma situação específica. Pelo contrário, ele deve ser sempre manifestado ainda que a pessoa cometa o mesmo pecado repetidas vezes. Você já pensou se Deus desistisse de perdoar você, dizendo que você já ultrapassou a quota de mentiras? Ou então, se Deus dissesse que não lhe daria o perdão por ser aquela a milésima vez que você ficava irritado? Mas Deus, graças ao seu imenso amor, jamais nega perdoar, mesmo repetidas vezes, aquele que lhe pede perdão. Deus nunca vira as costas para um pecador, afirmando que não vai perdoá-lo porque o pecador precisa sofrer as conseqüências das suas atitudes erradas.
A igreja deve ser uma comunidade onde o perdão se manifesta com grande facilidade. Sendo ela formada por pessoas que já experimentaram – e constantemente experimentam – o perdão de Deus, ela deve estender aos outros a experiência do perdão. O cristão deve ser uma pessoa perdoadora sempre. Assim, volte os olhos para a sua própria vida: se você guarda algum rancor de alguém, perdoe agora. Se você está irado com alguém que lhe fez mal, perdoe agora. Não fique esperando uma atitude do outro. Não fique aguardando que o outro venha lhe pedir perdão. Perdoe qualquer pecado. Perdoe quantas vezes forem necessárias. Perdoe sempre. A sua atitude de perdão certamente irá trazer vida para a sua vida e também vida para os outros.